Nestes últimos dias venho tendo a oportunidade de dar a devida atenção a um dos movimentos culturais mais importantes da história da música no Brasil, aquele que fez a ruptura da Bossa Nova e trouxe uma nova roupagem ao estilo musical da época, O Tropicalismo. Foi um movimento contra-cultura do final da década de 60 onde diversos artistas da época fizeram parcerias em festivais de música e apresentações ao vivo para se manifestarem contra o período conturbado da época - regime militar - exigindo, principalmente pela liberdade de expressão.
Como naquela época existia uma censura a qual restringia os artistas da época, os mesmos precisavam buscar suporte nas figuras de linguagem para poderem se expressar e passar a sua mensagem nas canções. É então que surge a Tropicalia, movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968, que teve início pelos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil no Festival de Música Popular Brasileira, na Rede Record e Globo.
Mesmo sabendo que o movimento não durou até a década de 70, fica claro que o mesmo foi de extrema importância para o cenário brasileiro da época, principalmente pelo lado musical, trazendo uma nova perspectiva dos ritmos e dando espaço a criatividade em estúdio, além do lado político, pois deu voz aos milhares de brasileiros que estavam indignados com o período, porém estavam censurados. Hoje em dia, nos resta os tantos livros, sites e documentários falando sobre o período, vale a pena disponibilizar alguns minutos de seu final de semana para conhecer as obras dos mestres da música brasileira.
Logo abaixo, cito o álbum-título do Movimento Tropicalista, uma das bandas mais irreverentes do período e outra dos anos 70, liderada por um excêntrico performer.
- "Tropicalia: ou Panis Et Circencis (1968)";
Em Julho de 1968, ocorre o lançamento do álbum que é considerado o marco do Movimento Tropicalista. Diversos artistas da época, adeptos aos movimentos sociais da época fazem parcerias para o álbum de auto-afirmação do movimento Tropicalista, pela Philips. Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes juntam-se com Nara Leão, Gal Costa e Tom Zé para o lançamento do álbum que retratava toda uma sociedade indignada com o período da Ditadura Militar e que buscavam, de todas as formas, a liberdade de expressão e direitos humanos que foram, de certa forma, minimizados neste período.
+ Música: Panis Et Circensis; Coração Materno; Baby e; Hino do Senhor do Bonfim.
- Os Mutantes (1966);
Sua formação original era composta por Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Dias. Eles são considerados os prepulsores do Rock Psicodélico no Brasil e bastante inovadores, por terem introduzido o Rock Experimental no cenário brasileiro, dando origem ao hibridismo musical ao mesclar o rock com a própria cultura local em suas canções metafóricas e que condiziam com a realidade da época. Os Beatles são considerados a maior influência da banda a qual exagerava na criatividade em estúdio, com distorção e truques em estúdio, assim como os Beatles faziam. Os Mutantes ganharam esse nome antes de sua primeira aparição no Programa do Ronnie Von, na TV Record. Pela sua irreverência musical e letras cheias de metáfora, Os Mutantes chamaram a atenção dos baianos para fazerem parte do movimento Tropicalista, dando início assim a uma parceria bastante enriquecedora para a cultura musical brasileira.
+ Música: Bat Macumba; Balada de um Louco; Posso Perder Minha Mãe, Mulher... Rock n' Roll.
- Secos & Molhados (1970);
Sua formação inicial, formada por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad revolucionou o modo de se fazer música e trouxe uma nova perspectiva ao momento conturbado do período. Mesmo não fazendo parte diretamente do movimento Tropicalista, a banda Secos & Molhados foi uma das prepulsoras no experimentalismo musical no Brasil: Seu primeiro CD, datado de 1973, possui uma mesclagem de diversos ritmos, como o forró, a psicodelia e o rock, juntas em um unico álbum, caracterizando a sua semelhança com o movimento Tropicalista da mesma época, tanto pelo desprendimento musical evidente da banda, como também por suas performances em festivais de música, com 'reverência estética, extravagância e cara-pintada' como sinônimos de suas apresentações ao vivo, no mínimo, intrigantes. Os Secos e Molhados chegaram após o movimento Tropicalista, porém trouxeram em suas letras o inquietamento de uma Nação e a crítica aos antigos tempos de ditadura.
+ Música: O Patrão Nosso de Cada Dia; O Vira; Rosa de Hiroshima; Fala.
Obs.: Pra quem tiver interesse em conhecer mais sobre o Movimento, existe o documentário Tropicália (2012), de Marcelo Machado.
Ou entrar e curtir o site TROPICALIA, projeto desenvolvido por Ana de Oliveira, e que traz o Movimento, suas características, histórico e a relação com o período conturbado da época.