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sábado, 26 de julho de 2014

Relato de um Sonho (de um Show) Ney Matogrosso #Brilhante #Encantador #Enigmático

Tenho recordações de um final de tarde de dezembro, onde estava no meu carro ouvindo a rádio, quando de repente uma canção cheia de sentimentos começa a tomar conta do ambiente, e uma voz forte passa a tocar o meu coração . Surgiram assim diversas sensações transcendentais, onde parti para outra dimensão e encantei-me pela canção. Lembro que ainda consegui escrever alguns trechos dela logo após ouvi-la para poder descobrir de quem seria aquela voz encantadora, e descobri que era mais do que um cantor... Era Ney Matogrosso, um dos artistas mais enigmáticos e irreverentes da cultura musical brasileira.


Ney Matogrosso começou a sua carreira da música muito cedo, no início dos anos 1970. Ele, João Ricardo e Gérson Conrad faziam grande sucesso com a banda Secos & Molhados, principalmente pelas suas apresentações ousadas nos festivais de música acrescidas de um figurino e uma maquiagem extravagantes. Eles foram um dos propulsores do hibridismo musical no Brasil, mesclando diversos ritmos e sons em suas composições. Em 1975, Ney Matogrosso lançou o seu primeiro álbum solo intitulado "Água de Céu-Pássaro", com uma sonoridade bastante experimental, adicionando sons que remetiam à natureza selvagem em cada canção, que nos teletransporta à ambientação musical do disco em si.

Sobre a canção que comentava no início da postagem, esta se chama "Poema", música composta por Cazuza e que ganha vida ao ser interpretada por Ney Matogrosso de uma forma tão doce mas tão cheia de vida. Além de cantor, ele é iluminador e ator brasileiro. Sua maior característica é sua interpretação perante o palco que segue na mesma vibe do início de sua carreira: Sempre irreverente e revolucionário, Ney Matogrosso chocou os anos 70 com seu visual "exótico" porém libertador para a sua época, dando voz a tantos outros jovens que almejavam um País (então envolvido na Ditadura Militar) digno de liberdade de expressão. Ney ainda lida com os palcos de forma liberta, sem frescuras, e isso tornou o seu show ainda mais vibrante e excitante. É por este e tantos outros motivos que tive a curiosidade em conhecer mais sobre o cara que é considerado um dos artistas mais completos do cenário brasileiro de música, e após algumas pesquisas tinha prometido a mim mesmo: "Eu ainda preciso assistir a um show ao vivo desse cara!"


E foi dito e feito! Dia 24 de julho de 2014, em João Pessoa - PB, após um longo dia cheio de compromissos, estava eu numa casa de shows prestes a estar em frente a um dos caras que tanto contribuíram para o rico acervo musical do Brasil, e eu me orgulhava disso. Centenas de pessoas de todas as idades encontravam-se num ambiente gostoso e que lidava bem com as diferenças: eram jovens e adultos animados, senhoras bem arrumadas e com seus vestidos de gala, pessoas "normais" como eu, além dos casais de toda cor, que se distinguiam apenas na orientação sexual, pois somos todos iguais. Já passava das 22h, estava eu, bem próximo ao palco e excitado para ver aquele cara tão enigmático e interessante. Ney tem viajado o Brasil com a nova turnê de seu último álbum intitulado "Atento aos Sinais (2013)" e iria apresentar seu novo repertório.

Então foi anunciado, Ney Matogrosso chegou ao palco exatamente às 22h10, sentado em uma poltrona que mais parecia um trono e que remetia à supremacia, dando boas vindas aos seus súditos que tanto o aguardavam. Neste momento, ele foi ovacionado pela plateia que soltava frases do tipo "Eu te amo, velho gostoso!". A iluminação da turnê estava impecável e casava de forma bastante positiva na ambientação do espaço e no próprio visual do artista, que estava envolvido com roupas luminosas e cristalizadas, brilhando o tempo todo. Iniciou-se o show, com a forte canção "Rua da Passagem", que literalmente ensina os ouvintes a como portar-se perante o trânsito caótico das grandes cidades brasileiras. Nas primeiras canções, Ney Matogrosso mostrou porque ele é tão aclamado pelo público: seus olhos ao encarar a platéia não piscavam um minuto, e a sua liberdade perante o palco é o mais encantador de todas as experiências.


Ouvimos uma sequência de canções que meche com os nossos nervos: "Noite Torta" e "Ilusão da Casa" fazem parte do repertório mais tranquilo do show, porém ambas possuem um cunho sentimental bastante forte, letras envolvidas no antagonismo de se fazer música, uma das marcas registradas dos anos 1970, em que os artistas utilizavam-se  de figuras de linguagem para se safarem do Regime Militar da época. Considerando o hibridismo musical do Ney, característica presente em suas canções desde o início de sua carreira, encontramos ele se arriscando no Funk carioca ao trazer em seus shows uma versão adaptada da canção "Beijos de Imã", mas que casou muito bem com a proposta do show e pela sua própria característica multi-facetada.

Em "Freguês da Meia Noite", canção escrita pela rapper Criolo, percebemos a presença da incrível banda dele que fez do show um espetáculo de música boa e ao vivo. Num outro momento, provavelmente na metade do show, enquanto a banda tocava um solo memorável, pudemos comprovar a irreverência do artista ao trocar de roupa em frente a plateia, tirando sarro e fazendo charme enquanto retira seu lenço brilhante e as botas de salto alto que são utilizadas por ele, um senhor de seus 70 e poucos anos mas que continua em boa forma! Ainda falando sobre sua irreverência no palco, ao final da canção "Não Consigo", relembramos um intérprete dos anos 70 que finge orgasmos em cima do palco, algo avassalador para a época, nos envolvendo num ambiente bastante curioso de sua personalidade.

Sobre o ponto máximo do show posso destacar a sua apresentação para a canção "Isso Não Vai Ficar Assim", uma batida de reggae bastante gostosa de se ouvir junto aos trompetes que dão a sonoridade completa para o refrão instigante que diz "... beije-me, beije-me, beije-me!", onde no final da canção algumas pessoas que estavam em frente ao palco se levantaram e foram agarrar o artista que não se importou com a demonstração de carinho da plateia, deixando o clima do show ainda mais agradável. A canção "Samba do BlackBerry" foi um dos momentos mais agitados. Sobre os antigos sucessos, Ney Matogrosso relembrou o período do Secos & Molhados ao interpretar a canção "Amor", de 1972, e sua tão aclamada canção "Poema", que levou as pessoas ao delírio e a certeza de que aquele momento valeu a pena, parecia até um sonho! Os covers também não ficaram de fora, com a canção "Ex-Amor" do Martinho da Vila.


Pra finalizar, ainda rolou a volta da banda ao palco e o repeteco na canção "Roendo as Unhas" que encerrou a noite de forma maravilhosa ao aparecer bolhas de sabão no palco, dando ainda mais beleza ao espetáculo.Como relato pessoal, posso dizer que este momento de quase 02 horas de show fizeram de mim uma pessoa muito feliz, pois pude comprovar ao vivo a vitalidade e a presença de palco que Ney Matogrosso exala em suas apresentações e o torna um dos artistas mais irreverentes dos anos 70 e que ainda hoje influencia a musicalidade brasileira. Este momento foi um sonho que pôde se tornar realidade: ver de perto a magnitude e irreverência de um grande artista da música popular brasileira, digno de muito reconhecimento e tão multifacetado como ele é... Incrível!

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